terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Sem contactos para ir a entrevista

Se não estão interessados num CV onde consta uma universidade feita, um curso feito no exterior ( e já demonstra muito da personalidade aventureira e dos riscos que gosta de correr), que escreva bem, que tenha uma apresentação cuidada, que tenha experiência no trabalho mais básico e que não necessitava de nenhum curso : como Administrativa, Recepcionista, Operador de registo de dados. Se não se interessam por um CV bem elaborado, sem erros, com todas as funções descritas. Como plus, que sabe mexer em várias ferramentas, como CRM, SAP, SIEBEL. Que sabe espanhol e inglês.

Então em que é que se interessam?????

De 20 Cvs que envio por dia, cerca de 8 são via facebook em grupos de trabalho, directamente com a recrutadora, que recebe o CV, que talvez o analise (ou não). Custa-me ver na semana seguinte a pedir para a mesma função! Custa-me mais que esteja a concorrer para coisas que tenho experiência mas não são a minha área técnica. Estou a prescindir de 700 euros para ficar com 550. Mas custa que mesmo assim não me chamem!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Entrevista pelo cano abaixo

Sem muito que desenvolver, e com muita vergonha...
Semana passada tinha uma entrevista no centro de Lisboa. Não me constou que fosse nada de muito interessante, pois parecia trabalho comissionado, mas também não fui lá verificar.
Não tinha dinheiro para me deslocar : Para o centro de Lisboa gasto cerca de 6 euros, ida e volta.
Não dispunha desse dinheiro.

Quantos de vocês não conseguem ir para a frente com a entrevista?

sábado, 28 de janeiro de 2017

Que orgulho terão os nossos ascendentes?

O meu pai, que não me criou, está agora numa situação deplorável financeiramente.
No meio de um mar de dívidas, já pensei que ele tivesse perto do abismo diversas vezes, e tive que ir ao seu encontro, na cidade onde ele vive, para evitar que o pior acontecesse. Nessa época estava eu a terminar a licenciatura em Lisboa e trabalhava à noite, ainda foi fácil pedir uma licença sem vencimento para passar uns dias com ele.
Tem vários filhos, mas vivia sozinho. Sem mulher.
Reformado agora de uma posição boa, recebe uma reforma choruda que está penhorada devido a dividas.
Coisas que ele fez, e que embora não tivesse certo, dou muito as culpas à forma errada como o sistema está feito.
Penhoras, casa sem estar a ser paga, carro sem estar a sem pago..."Era isto a vida que me querias passar, papá?"
A ultima vez que falei com ele há dias, disse-me que não podia sair de casa porque estava sem dinheiro para gasolina. E que ele e o meu irmão nesse dia não tinham almoçado (para poupar).
Os que não passaram por isso vão dizer:
- Ele pode sair, não tem que ser de carro.
- Alguém que tudo teve de certeza, e que vigarizou o sistema.
- Não almoçar uma vez, não faz mal nenhuma!
Eu, que estou a passar por isso a primeira vez na minha vida à séria, tenho de dizer que uma pessoa que se sente mal por não ter dinheiro, e por ver a vida a descambar de um momento para o outro, sem qualquer rumo, sem qualquer luz, só pensa em morrer! Não sai de casa a pé, não tem vontade de andar, de ser visto, que o comentem, que falem dele, que o olhem. Não sai a pé, nem de carro ( que ainda lhe daria alguma liberdade, para se esconder, para ir até um pouco mais longe, para beber o seu café (não digam que são vícios).
E * o meu pai não vigarizou nada, foi uma acumulação de erros, e prejuízos que a sua empresa teve, uma dúzia de pessoas ficou a dever-lhe milhares de euros, depois a falência.
Quando falo com ele costuma-me. Recentemente parece que estamos a concorrer, e a ver quem está pior. "Aqui não temos nada para comer" "Aqui também não". Que aberração !
Gostava de ter a capacidade de ajudar, de ter aquele pé de meia que se conquistava nos anos 80, e que os meus avós tanto me ensinaram! A mãe do meu pai, ela , ela sim foi uma heroína, que construiu um pequeno castelo à conta dos salgados que confeccionava . Tenho a certeza que ela não estará feliz, com a vida do meu pai.
Tenho pena que tenhamos chegado a um capítulo deste livro da vida, e não darmos orgulho a nenhum ascendente nosso. E ao mesmo tempo que eu tenho discernimento para valorizar a vida, sei exactamente como é não enxergar luz para continuar...

Vamos pôr um batom?

Vamos esticar o cabelo? Pintar essa raiz de cabelos brancos? Fazer as sobrancelhas que isso já parece mata serrada? Vamos vestir uma roupinha que fique bem? (embora sei que não tens roupa nova, e que nenhuma te fica bem, porque andas desleixada e acabas por te afundar em pão, quando estás lá em baixo, mesmo lá no fundo do poço e a comida é o que te faz sentir melhor? Vamos andar bonita, costas direitas, algum saltinho alto(se bem que não tens queda nenhuma por isso), vamos fazer a depilação às pernas ( 20 euros????? onde????) para te sentires mais leve, literalmente!
Vamos andar apresentável? Cuidada?

Só pode ser gozo! Não! 30.000 vezes Não. Não vamos! Não vamos porque não podemos.

Segundo estudei em psicologia, o determinado senhor tem uma pirâmide, e a base dela é a sobrevivência. Nunca mais me esqueci disto. Tudo o que for a cima disto, se a sobrevivência não estiver garantida, não existe.

Assim, eu, e as mulheres que fazem um grande esforço para sobreviver com o pouco que têm, não podem andar cuidadas. E se pudessem por um dia, pensariam na sua consciência.


Tenho acordado suada depois de uma noite mal dormida.
E quanto mais se aproxima o fim de semana pior é : menos probabilidades que tenho de arranjar um trabalho novo imediatamente. Não me contactam aos fins de semana para trabalhar ou ir a entrevistas, dois dias inúteis de expectativa para que tudo comece segunda-feira outra vez!
Tem sido difícil...desde 2011 que envio CVS todos os dias, para vários países. em 2015 lá encontrei um trabalho, embora precário a recibos verdes, mas a empresa fechou em Setembro de 2016. Estou há meses a enviar CVS todos os dias, de novo. Algumas entrevistas (muito poucas) e a certeza que há "sete cães a um osso". Não recebo qualquer subsídio de Dezembro porque não tenho direito. Também não recebo a Reinserção porque o meu marido recebe mais de 300 euros...mas adivinhem? o salário dele não chega. O mês de Dezembro foi difícil, o de Janeiro ainda mais...este mês de Fevereiro temos algumas dívidas em atraso, possivelmente não vamos pagar todas as contas, seguro do carro não sei como vamos fazer, e comida será como este mês...usar poucos ingredientes e tudo dividido matematicamente por todos os duas.
A partir de dia 10 já não há dinheiro. Que alegria! Tenho 35 anos, uma licenciatura numa área que supostamente dá em Lisboa, alguma experiência, ideias, criatividade, e a ideia convicta que estes 35 parecem uns 65 de astral ( nada contra os de 65...)
Estar preocupada, todos os dias, todas as horas...acham que dá para se sonhar ou perspectivar alguma coisa? Nem o fim de semana seguinte! Não dá para planear um jantar, um momento meu, ou nosso, um momento em que eu me sinta bonita ou bem! Coisas supérfluas! Coisas que não posso ter!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Há muito que penso em tornar público o meu percurso de vida adulta. Depois de "casada". Depois de "junta". De sair de casa da minha mãe. E depois de ter tido um filho.
Apresento-me: Sou uma sem notas. Nunca vou revelar a minha identidade, por vergonha, sim! Vivo com o meu marido, embora nunca tenhamos casado no papel. Ele não é português e está há 14 anos longe do seu país e há esse tempo todo sem ver a família. Temos um filho de 3 anos, lindíssimo, mais ou menos saudável.
Eu tenho 35 anos, há 6 anos que sou licenciada em Turismo.
Vivemos nos arredores de Lisboa, e todas as oportunidades estão...ou estariam.

Decidi finalmente expôr, uma série de desabados que não consigo conter mais cá dentro. Vivemos num mundo de dificuldades, embora sem sempre aparentamos. Tenho conhecimento que ao meu redor, os meus amigos vivem uma situação idêntica. A maior parte afastou-se por vergonha. À pergunta: "Estás bem"?, a resposta iria ser :" o que queres que te diga?", e para evitar responder dessa maneira, melhor não dizer nada. Vivemos em silêncio e fazemos um esforço amarelo para estar bem, é tabu falar-se de como se está. 
Quero muito representar estas pessoas, faze-las ouvir por simples contos do meu dia a dia, tão semelhantes às dos seus dias. 
Somos filhos de quem conquistou muito com seu suor, nos anos 80, 90. Somos pessoas que não conseguem conquistar nada no presente. Somos a descendência sem notas no bolso, sem notas no banco, sem notas entre os livros. Somos nada. Não conseguimos sair deste mesmo lugar, com curso, sem curso, com experiência ou sem.

Fiquem com as minhas Notas de Conto...ou os meus contos sem notas.